"Big Man", de Ron Mueck |
Eu me pergunto, neste
início de dezembro, se o vazio que me acomete a alma é consequência de uma
tendência minha à sensibilidade excessiva, ou percepção nada alienada das
baixezas humanas que têm tentado, com êxito, destruir o país.
A sensibilidade
excessiva e a política não me possibilitam fechar os olhos em busca de alguma
paz. O que eu mais queria, no entanto, era fechar os olhos e acordar na mais
absoluta serenidade. Queria força interior para mim e coerência e democracia
para a política nacional. Como conseguir tais proezas?
O vazio que me tritura
liquidifica minhas esperanças e alegrias. Sob meus pés deslizam fragmentos de uma
vida em silêncio. Em silêncio como? Vivo aos gritos – e somente eu mesmo os
posso ouvir.
Esse vazio indica pessoas
ausentes? Os mortos ou os vivos me despertam maior saudade? Não vejo minhas
mãos quando o mundo me atravessa com suas inadequações. Quem tem mais
inadequação: ele ou eu?
Enquanto biltres se
ocupam em destruir – ratos que são – o país, eu me impressiono com a minha
própria condição. Fixo um ponto na parede e deixo o mundo girar sem mim. Baratas
gordas existem em algum escuro que não posso perscrutar – e como são completas! Nascem para fins específicos sem que haja necessidade de problematizações. Meus
olhos fixos no ponto da parede. Incompletude absoluta é a lança que sorve de
mim o sangue e a água.
Passeio os dedos sobre as
cenas que aprisionei em mim – nunca as saberia descrever. Dor intensa é melhor
segredada? O país chora sem hino, sem bandeira, sem ética, sem soluções. Queria
um olhar de fraternidade que se transformasse em mãos aguerridas e tirassem de
mim a não-força que me fustiga.
Neste dezembro, tão
incerto e injusto, quero a paz maior do mundo. Serpentes de paletó preparam
botes contra a nação, mas será possível a existência de alguém nascido para um
olhar confortador?
Andarei dias e noites
fixando pontos incertos, ou encontrarei, finalmente, a pacificidade perdida desde o momento em que nasci e tive que enfrentar os desamparos com choro e ranger de dentes? Será isso?
Desamparo? Quem ousou, nesta vida incompleta, me desamparar? Eles não sabiam
que eu era de alma frágil?
Será autocomiseração
demais para um ser humano só? Dezembro, preciso pedir com ênfase: não permita
que os políticos – cupins malignos – comam as pedras que meu povo reuniu com trabalho e honra,
também não permita que o vazio arranque de mim a esperança de encontrar novas
roupagens para minhas mãos há tanto tempo vazias e sem cor.
Émerson Cardoso
06/12/16
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