O fim e o princípio
foi o primeiro filme de Eduardo Coutinho que eu assisti. Ele é de 2005 e
apresenta depoimentos colhidos numa comunidade do interior da Paraíba. A
comunidade retratada é o Sítio Araçás, localizado em São João do Rio do Peixe.
A maior parte dos depoimentos é de
pessoas idosas – personagens de um universo austero, mas rico de experiências
existenciais e sabedorias adquiridas pela intensa relação com o sertão e suas
riquezas simples.
Recolhidas em seus anonimatos, essas personagens do
mundo real, tão encontráveis no sertão nordestino, discorrem sobre suas
histórias familiares, crenças, experiências de trabalho, alegrias e sofrimentos
diários. Sem um roteiro prévio, Coutinho propõe uma abordagem inovadora e
criativa ao construir sua obra a partir das tessituras narrativas apresentadas
pelos moradores de Araçás. Em verdade, o cineasta visita os moradores da
localidade, elabora perguntas aleatórias e registra os depoimentos de modo que
nos sentimos bem próximos deles.
Nesse documentário, somos apresentados, a cada
visita, à beleza da prosa sertaneja repleta de histórias envolventes. É
instigante observar o registro das idiossincrasias linguísticas e das práticas
culturais que marcam a vida dessas personalidades. Rezadeiras, parteiras,
agricultores, poetas, pensadores, donas de casas tecem, com suas narrativas,
uma colcha de retalhos alinhavada com as cores da vida em suas amplas
potencialidades.
Para mim, é impossível assistir a esse filme sem me
comover profundamente. Em alguns momentos, a câmera apresenta em close o olhar
dos entrevistados e isto, definitivamente, dá-nos a sensação de que podemos
mergulhar no universo dessas personalidades e, assim, apreendermos delas as
mais densas sensações.
CARDOSO,
Cícero Émerson do Nascimento. Resenha: “O Fim e o Princípio”, de Eduardo
Coutinho. Sétima Revista de Cinema, n.
39, p. 04, jan. 2017.
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