CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
Este livro está dividido em duas partes: 1) na
primeira parte, o autor elabora dez teses sobre o ensino de gramática e 2) na
segunda, estão expostos conceitos de gramática e reflexões que apontam para seu
ensino no espaço escolar.
OBJETIVOS DO AUTOR:
- Discorrer sobre um conjunto de princípios destinado a provocar reflexão sobre o ensino de gramática da língua portuguesa;
- Propor teses sobre o ensino da língua materna sem, com isto, cair no plano das experiências que transformam, por vezes, o aluno em objeto de experimentos;
- Refletir sobre a concepção de língua e de ensino de língua na escola.
PRIMEIRA PARTE
“Em que consistiria o domínio do português padrão?
Do ponto de vista da escola, trata-se em especial (embora não só) da aquisição
de determinado grau de domínio da escrita e da leitura”. (p. 19)
“Uma das medidas para que esse grau de utilização
efetiva da língua escrita possa ser atingido é escrever e ler constantemente,
inclusive nas próprias aulas de português”. (p. 20)
TESES
TESE 01
O objetivo da escola é ensinar o português padrão,
ou, mais exatamente, o de criar condições para que ele seja aprendido.
TESE 02
Damos aula de que a quem? Para que um projeto de
ensino de língua seja bem sucedido, uma condição deve necessariamente ser
preenchida, e com urgência que haja uma concepção clara do que seja uma língua
e do que seja uma criança (na verdade, um ser humano, de maneira geral).
TESE 03
Não há línguas fáceis ou difíceis. Todas as línguas
são estruturas de igual complexidade. Não existem línguas simples e línguas
complexas, primitivas e desenvolvidas. O que há são línguas diferentes.
TESE 04
Todos os que falam sabem falar. Saber falar uma
língua significa saber uma gramática. Saber gramática não significa saber de
cor algumas regras que se aprendem na escola, ou saber fazer análises
morfológicas e sintáticas. Saber uma gramática é saber dizer e saber entender
frases.
TESE 05
Não existem línguas uniformes. Neste sentido: a)
todas as línguas variam, isto é, não existe sociedade ou comunidade na qual
todos falem da mesma forma; b) a variedade linguística é o reflexo da variedade
social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de
papel entre indivíduo ou grupos, estas diferenças se refletem na língua c) os
principais fatores de diferenciação são: geográficos, de classe, de idade, de
sexo, de etnia, de profissão, etc.
TESE 06
Não existem línguas imutáveis. Nenhuma língua
permanece uniforme.
TESE 07
Falamos mais corretamente do que pensamos. É
relativamente pequena a diferença entre o que um aluno (ou outro cidadão
qualquer) já sabe de sua língua e o que lhe falta saber para dominar a língua
padrão.
TESE 08
Língua não se ensina, aprende-se. Não se sabe muito
bem o que se passa na mente humana, o fato observável é que todos falam, e
muito, e bem, a partir de três anos de idade. Não se aprende por exercícios,
mas por práticas significativas.
TESE 09
Sabemos o que os alunos ainda não sabem? Os
programas anuais poderiam basear-se em levantamento do conhecimento prático de
leitura e escrita que os alunos já atingiram e, por comparação com o projeto da
escola, uma avaliação do que ainda lhes falta aprender.
TESE 10
Ensinar língua ou gramática? O domínio efetivo e ativo
de uma língua dispensa o domínio de uma metalinguagem técnica. É possível
aprender uma língua sem conhecer as regras com as quais ela é analisada.
SEGUNDA PARTE
ENSINO DE GRAMÁTICA:
Estudo de regras mais ou menos explícitas de
construção de estruturas (palavras ou frases). Um exemplo dessa primeira
atividade é o estudo das regras ortográficas, regras de concordância e de
regência, regras de colocação dos pronomes oblíquos etc.
Análise mais ou menos explícita de determinadas
construções. Exemplos são os critérios para a distinção entre vogais e
consoantes, critérios de descoberta das partes da palavra (radical, tema,
afixos), análise sintática da oração e do período, especialmente se isso se faz
com a utilização de metalinguagem.
CONCEITO DE GRAMÁTICA:
A palavra gramática significa “conjunto de regras”:
1) conjunto de regras que devem ser seguidas
(normativa ou prescritiva);
2) conjunto de regras que são seguidas (descritiva);
3) conjunto de regras que o falante da língua domina
(internalizada).
CONCEPÇÃO DE LÍNGUA:
A cada uma das definições de gramática apresentadas
acima corresponde uma concepção diferente e compatível de língua:
1) Para a normativa, a língua corresponde às formas
de expressão observadas produzidas por essas pessoas cultas, de prestígio.
2) Para a descritiva, encara a língua falada ou
escrita como sendo um dado variável (não uniforme), e seu esforço é o de
encontrar as regularidades que condicionam essa variação.
3) Para a internalizada, a língua deve ser
compreendida como conhecimento interiorizado.
REFERÊNCIAS:
POSSENTI, Sírio. Por
que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras:
Associação de Leitura do Brasil, 1996.
Nenhum comentário:
Postar um comentário