sábado, 1 de junho de 2013

GRAMATIC (ARTE): TONICIDADE DA SÍLABA



SÍLABA é o fonema ou grupo de fonemas pronunciados numa só emissão de voz. Então, uma palavra tem tantas Sílabas quantos forem os impulsos de voz necessários para pronunciá-la.

1 - Quanto ao número de Sílabas, as palavras são classificadas em:

MONOSSÍLABAS: quando possuem apenas uma Sílaba.

MAR / FLOR / DEUS / PAI / SÓ

DISSÍLABAS: quando possuem duas Sílabas.

BRASIL / PAÍS / MORTO / CASA / BAÚ

TRISSÍLABAS: quando possuem três Sílabas.

PALAVRAS / ESPOSA / CADEIRA / PÊSSEGO 

POLISSÍLABAS: quando possuem mais de três Sílabas. 

PASSAGEIRO / CAMINHONEIRO / EXCEPCIONAL

2 - Quanto à tonicidade, as palavras são classificadas em:

TÔNICAS: quando se dá maior intensidade sonora a uma Sílaba.

APÓS / AVÓS / CANÇÃO / PERDERAM / AUSTERO 

ÁTONAS: quando se dá menor intensidade sonora a uma Sílaba.

AMOR / PLATÃO / BANQUETE / APOLOGIA

3 - Quanto à Sílaba tônica (sua localização na palavra), as palavras são classificadas em: 

OXÍTONAS: quando o som de maior intensidade recai na última Sílaba da palavra.

SABIÁ / PORÉM / ALGUÉM / SACI / CAJU / JAMAIS

PAROXÍTONAS: quando o som de maior intensidade recai na penúltima Sílaba da palavra.

JANELA / VEL / PARTO / PANELA / RAX / PIS

PROPAROXÍTONAS: quando o som de maior intensidade recai na antepenúltima Sílaba da palavra. 

ÚLTIMA / BITO / GICA / RAX / PÚRPURA / EXÉRCITO

 4 - Quanto à Divisão Silábica, devemos considerar algumas regras: 

a - Não se separam as vogais de Ditongos e Tritongos:

PAI-XÃO /  I-GUAIS

b - Separa-se Ditongo de Hiato quando aparecem juntos:

MEI-A / BOI-A / SA-IU

c - Separam-se as vogais dos Hiatos:

MO-Í-DO / BA-Ú / SA-Í-DA

d - Separam-se as consoantes do Dígrafos RR, SS, SC, SÇ, XC:

BAR-RO / PAS-SO / AS-CEN-DER / DES-ÇO / EX-CE-LEN-TE 

e - Não se separam os Dígrafos LH, NH, CH, GU, QU:

GA-LHO / SO-NHO / CHA-PO-LIN / GUER-RA / BOS-QUE

f - Não se separam da Sílaba anterior as consoantes que não forem seguidas de vogais:

AP-TO /  FLEUG-MÁ-TI-CO / AD-MIS-SÃO

g - Não se separam os Encontros Consonantais que iniciam palavras:

GNO-MO / PNEU-MÁ-TI-CO

h - Os prefixos (DES-, IN-, SUB-) desmembram-se para formar outra Sílaba quando seguidos de vogal:

DE-SU-NI-ÃO / I-NE-VI-TÁ-VEL / SUB-EN-TEN-DER


Para ilustrar a nossa discussão, observe a letra das canções abaixo e perceba com que criatividade elas foram produzidas. Em épocas diferentes e estilos específicos, os autores apresentam versos primorosos pela musicalidade e pela recorrência de rimas ricas - essas rimas são denominadas assim por serem formadas por palavras Proparoxítonas (antigamente denominadas palavras Esdrúxulas). Tente identificar, nas canções abaixo, onde se localizam as Sílabas Átonas e Tônicas e onde se encontram as Oxítonas, Paroxítonas e Proparoxítonas.


O DRAMA DE ANGÉLICA
(Alvarenga e Ranchinho)

Ouve meu cântico
quase sem ritmo
Que a voz de um tísico
magro esquelético...
Poesia épica 
em forma esdrúxula
Feita sem métrica
com rima rápida...
Amei Angélica
mulher anêmica
De cores pálidas
e gestos tímidos...
Era maligna
e tinha ímpetos
De fazer cócegas
no meu esôfago...
Em noite frígida
fomos ao Lírico
Ouvir o músico
pianista célebre...
Soprava o zéfiro
ventinho úmido
Então Angélica
ficou asmática...
Fomos ao médico
de muita clínica
Com muita prática
e preço módico...
Depois do inquérito
descobre o clínico
O mal atávico
mal sifilítico...
Mandou-me célere
comprar noz vômica
E ácido cítrico
para o seu fígado...
O farmacêutico 
mocinho estúpido
Errou na fórmula 
fez despropósito...
Não tendo escrúpulo
deu-me sem rótulo
Ácido fênico
e ácido prússico...
Corri mui lépido
mais de um quilômetro
Num bonde elétrico
de força múltipla...
O dia cálido
deixou-me tépido
Achei Angélica
já toda trêmula...
A terapêutica
dose alopática
Lhe dei em xícara
de ferro ágate...
Tomou num fôlego 
triste e bucólica
Esta estrambólica
droga fatídica...
Caiu no esôfago
deixou-a lívida
Dando-lhe cólica
e morte trágica...
O pai de Angélica
chefe do tráfego
Homem carnívoro
ficou perplexo...
Por ser estrábico
usava óculos:
Um vidro côncavo
o outro convexo...
Morreu Angélica
de um modo lúgubre
Moléstia crônica 
levou-a ao túmulo...
Foi feita a autópsia
todos os médicos
Foram unânimes 
no diagnóstico...
Fiz-lhe um sarcófago
assaz artístico
Todo de mármore 
da cor do ébano...
E sobre o túmulo 
uma estatística
Coisa metódica
como Os Lusíadas...
E numa lápide
paralelepípedo
Pus esse dístico 
terno e simbólico:

"Cá jaz Angélica
Moça hiperbólica
Beleza helênica
Morreu de cólica!"













CONSTRUÇÃO
(Chico Buarque)

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague!

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague!
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague!




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